Ninguém deveria temer a morte. Eu já tive medo de morrer. Ficava apavorada só de imaginar que um dia deixaria de existir sem ter feito a minha vida valer. A luta para não deixar em branco as paginas do livro da minha vida, me fez viver quando pensava que iria morrer. Mas incluir reputação, renome, fama e poder demandam uma fabrica de energia. Viver empolga, mas também cansa para caramba.
Almejei grandes arroubos. Hoje fico satisfeita com pequenas coragens; busco uma intrepidez mínima que me dê ânimo para caminhar até o ultimo passo. Igual a tantos, sinto-me numa maratona. Confesso que o meu fôlego está acabando para levantamento de recursos, para cuidado de carentes, para gestos de solidariedade, para vencer a complacência generalizada. Depois de anos de trabalho, não encontro sombra, refresco. Admito: o dia-a-dia pode não passar de um triturador de sonhos. Não são poucas as vezes que desperdiço grande carga de energia emocional para lidar com inconstâncias e, isso é constrangedor... Vivo ladeada por gente que trata o divino com a lógica do mercado: um mínimo de investimento esperando receber um máximo de retorno. Recompor é preciso, mas não sei como. Decepções aparentemente desprezíveis geraram um desalento monumental em minhas poucas iniciativas. Somei desencantos e agora me vejo roubada de antigos ideais. Ímpetos se transformaram em prudência. Cautela substituiu denodo. Desânimo tomou o lugar do coração aquecido. Pouco a pouco, letargia se alastrou como um cancro em minha alma. Perdida, sem paixão, perambulo como um zumbi nos becos mal iluminados da minha religião.
Vejo muitos na agonia, irmãos na angústia e amigos na caça de novos horizontes. Fico desalentada. Por vezes não consigo dessedentar o meu coração, acalmar o meu espírito conturbado ou reverter o esmorecimento de minha existência. Sei que Deus está comigo, mas as superficialidades me sufocam, as repetições me estranham, os lugares-comuns me derrubam. Em muitos momentos sinto-me bater no fundo do poço, vejo então que a única saída é subir, subir até alcançar a luz que vejo no fim do túnel, ou melhor, no fundo do poço. Quando se está no fundo do poço, a única coisa que se pode fazer é subir. Na comunicação fria da internet, sei que posso "andar" ao lado de pessoas, e isso me anima. Pessoas tem - me ajudado a cerzir pequenas coragens no meu ser, de algum modo, vejo o mundo virtual aproximando pessoas. Sou testemunha viva desse ato... Conheci meu esposo na grande cidade net.
Sei que outros carregam um clamor semelhante ao meu. Hoje já não sinto medo de morrer... Mesmo sem conhecer muita gente fora do meu reino, penso que sete mil ainda não deixaram cair os braços diante da inclemente realidade que me rodeia.
· * Direitos Reservados à Cleusa de Souza Klein
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